Às vésperas de 2026, Lucas Ribeiro — vice-governador da Paraíba — se firma como a aposta principal do clã Ribeiro para a sucessão do Palácio da Redenção. Embalado pela narrativa da continuidade, o jovem político vem construindo sua imagem como herdeiro natural de João Azevêdo: “esse ‘barco’ eu já estou tocando ao lado do governador”, declaração que reforça em cada evento, entrega ou vistoria — como a Ponte do Futuro.
Por trás da postura conciliadora e da agenda cheia de inaugurações, a fórmula é clara: estrutura partidária blindada, marketing bem montado e discurso afeito à imagem de gestor discreto. Em 2025, o PP elevou-o a “garoto‑propaganda” do partido, protagonizando inserções que destacam obras, passe livre estudantil e geração de empregos. O que se vê é estratégia moldada para exibir eficiência enquanto adia o debate programático.
Comecemos pelo discurso oficial. Lucas Ribeiro já declarou que pode ser o candidato ideal para manter a continuidade do governo, sobretudo caso João Azevêdo decida concorrer ao Senado. Essa imagem de substituto natural é reforçada por apoios internos como o do deputado Aguinaldo Ribeiro e o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira. Mas será que isso basta para definir um candidato?
É aqui que entram as vozes críticas dentro do próprio campo governista. O prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, foi contundente ao afirmar: “não são títulos honoríficos que definem eleições… a decisão final pertence ao povo, que avalia projetos concretos, não rótulos”. Ainda mais incisivo, Murilo Galdino, do Republicanos, declarou que a candidatura de Lucas Ribeiro “não é natural”: “outros nomes também podem ser candidatos”. É evidente que a noção de “naturalidade” é contestada inclusive dentro da base de apoio.
O sobrenome Ribeiro é ao mesmo tempo trunfo e estigma. Em 2022, Simone Duarte o descreveu como o “filho do clã político” sem densidade eleitoral: “o problema é (achar) que […] o garoto Lucas […] teria autonomia em determinar seus anseios políticos, o que é uma fábula”. Ou seja: há quem enxergue nele menos um líder emergente e mais um elo fraco de uma estratégia familiar.
Portanto, justificar a candidatura de Lucas Ribeiro apenas pela tradição política ou pela engrenagem do partido ignora a exigência básica do pleito: conteúdo. Se direitos democráticos não são títulos herdados, tampouco bastam cenários pré-armados. A “naturalidade” sem consenso não é suficiente para construir liderança. Para realmente conquistar o eleitor, Lucas Ribeiro precisará provar que seu projeto vai além da continuidade decorativa. Somente um nome capaz de conciliar legado, alianças amplas e um programa claro terá legitimidade — e aí sim, poderá justificar com seriedade o apelido de “natural”.
Até lá, o que vemos é menos a ascensão de um candidato evidente, e mais a imposição de um rótulo frágil — símbolo de uma candidatura mais nascida em escritórios do que em corações e mentes do eleitor paraibano.